sexta-feira, 29 de julho de 2011

Terapia da dignidade ajuda pacientes terminais

iG

Foto: Getty Images

 Um diálogo terapêutico conhecido pelo nome de terapia da dignidade ajudou pacientes em estado terminal a melhorar a qualidade de vida, é o que mostra uma nova pesquisa. Os pacientes sentiram uma nova sensação de dignidade ao mudar a forma como eram vistos e valorizados por seus familiares.

A terapia ofereceu diversos outros benefícios para a experiência de final da vida, segundo Harvey Max Chochinov, principal autor do estudo publicado em julho no site do periódico The Lancet Oncology.
Chochinov, da Universidade de Manitoba, do Canadá, foi o pioneiro no conceito da terapia da dignidade, a qual ele define como “uma breve psicoterapia individualizada criada para pessoas que se aproximam do final da vida”.

Ele explica que o tratamento parece “acender uma luz na identidade do paciente”, já que as doenças terminais muitas vezes fazem o paciente se sentir como se tivesse perdido sua própria identidade. Ele complementa que este tipo de terapia vem ao encontro das necessidades do paciente de deixar algo deles para trás.

Entretanto, a terapia em curto prazo não aliviou aqueles que se sentiam angustiados pela morte, como esperavam os pesquisadores.

Funcionamento

A terapia da dignidade envolve um dialogo em torno de questões importantes para o paciente. Tais informações são gravadas em áudio, transcritas e editadas em uma narrativa de fácil leitura para que o paciente possa compartilhá-la, ou não, com pessoas queridas.

“Os temas vão de informações biográficas a lições de vida, desejos, esperanças ou sonhos para as pessoas que eles estão prestes a deixar”, explica Chochinov.

O estudo, primeiro ensaio randomizado da terapia, comparou um grupo de 108 pacientes em terapia da dignidade a dois outros grupos: um deles, com 111 pacientes em tratamento paliativo padrão (que busca trazer conforto) e outro, com 107 pessoas em terapia com foco no paciente (com ênfase no aqui e agora).

Apesar de não encontrarem diferenças nos níveis de angústia entre os três grupos no final do estudo, os pesquisadores detectaram diferenças em qualidade de vida, sensação de sentir-se útil para as pessoas queridas e melhora na sensação de dignidade. O grupo tratado com a terapia da dignidade alcançou melhores resultados que os outros dois grupos.

A terapia da dignidade foi mais eficaz no aprimoramento do bem-estar espiritual do que a terapia com foco no paciente, funcionando também melhor que o tratamento paliativo padrão na redução da depressão e da tristeza.

Casos

Um dos pacientes, que tinha perdido seus objetivos de vida por causa do alcoolismo, disse que esperava que seus filhos e netos tivessem nele um exemplo de como não conduzir a vida. Outro paciente, satisfeito com seu casamento, disse que esperava que a mulher pudesse encontrar a felicidade com outra pessoa depois de sua morte.

Chochinov ressalta que existe uma razão para o uso de áudio, e não de vídeo, para registrar as informações. Este método permite que o paciente mantenha o foco nas palavras e na mensagem, não na aparência – que pode estar bastante alterada pela doença.

O fato da pesquisa não encontrar um efeito da terapia sobre a angústia “não quer dizer que ela não seja eficaz”, diz o psicólogo Cheryl Nekolaichuk, que utiliza o método paliativo no Grey Nuns Community Hospital, do Canadá.

Nekolaichuk, autor de um artigo que comenta o estudo, é familiarizado com a terapia da dignidade e a considera útil para quem quer “colocar as coisas em perspectiva em um momento bastante difícil da vida”.

A terapia parece ajudar o paciente a construir um legado, complementou Alexi Wright, professora de medicina da Harvard e do Dana-Farber Cancer Institute, de Boston.

“Quando isso não acontece, as famílias sofrem”, ela explica, ressaltando que a terapia da dignidade pode ajudar o paciente terminal a tornar sua morte algo mais fácil para seus entes queridos.

O estudo, que também envolveu pesquisadores de três universidades australianas e do Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, de Nova York, foi financiado pelo Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos.

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